Edgar Allan Poe, Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães entre outros ícones da literatura do ultra-romantismo iriam de fato, se inspirar nessas lendas e relatos seculares presente no Vale do Paraíba, em especial, a cidade de Jacareí.
Entre maldições, fantasmas, seitas, e criaturas da noite, estão : A Carruagem da Baronesa, a Filha do Coronel, As Tumbas Secretas, A Maldição do Solar... são apenas algumas das lendas da cidade, em seus 368 anos de uma história que guarda além do folclore, contos, superstições e fatos sobrenaturais que perpetuam até nos dias de hoje.
Muito antes do cinematógrafo, as lendas de lobisomem, fantasmas e monstros estavam enraizados na cultura local desde a sua origem.
Veja abaixo algumas delas :
A Carruagem da Baronesa
A Carruagem da Baronesa não é tão conhecida como as demais, dizem que em um dia certo do ano, em noites de densa neblina , um cocheiro conduz uma negra carruagem que parece flutuar junto a névoa que a circunda. Parando em frente ao cemitério do Avareí, a baronesa desce da cabine a procura de sua sepultura e descanso eterno, a carruagem prossegue e desaparece na imensidão.
Representação da Lenda |
O Túmulo da Sinhá Adelia
Não se sabe muito sobre a vida de Adelia, apenas rumores. Dizem que era uma mulher violenta, maltratava os seus sais com crueldade, principalmente as escravas bonitas (semelhante a Condessa Elizabeth Bathory, na atual Hungria). Pedindo perdão à Deus e aos escravos por todos os seus atos de maldade, Adelia morre na senzala em 1875, na posição em que se encontra o monumento de sua tumba, as mais visitadas do cemitério do Avareí. Muitos a veem como uma santa, acendem velas e fazem orações e sempre são atendidos.
Mas, não termina por aí. Por algum motivo, a escultura de mármore não tem um dos pés, por mais que tentem restaurar, o pé sempre cai. A noite, alguns dos guardas municipais ouviam uma mulher chorar e gritar naquela direção, como se Adelia ainda sofresse por não se perdoar ou ainda estar sofrendo pelo seus atos.
Túmulo de Adélia Ferreira Braga de Siqueira (Créditos da foto : Ralf Mateus) |
O Barqueiro Fantasma
Por muito tempo essa lenda era proibida de ser comentada ou mencionada na cidade, apenas os mais antigos sabem o ritual de "invocação". Na ponte do São João, no início do século XX, reza a lenda que o espírito de um barqueiro navegava no rio paraíba,ao redor, cães e outros animais ficavam inquietos com a presença da suposta figura medonha.
- "Oi! Passage !"
Nada acontecia, apesar da paisagem macabra, insistiam em avistar o fantasma, e continuavam diversas vezes chamando "Oi,passage !"as suas tentativas tiveram êxito. Aos fundos, avistavam entre as névoas que cobriam o rio, uma parte parcial do barco, em seguida, avistaram o barqueiro por inteiro indo em direção a eles. Com medo, corriam para as suas casas, nenhum deles conseguiram dormir durante dias. Como foi comentado anteriormente, não é revelado até o hoje o nome do espírito, os mais antigos temem que ele possa retornar, apenas se sabe que existia um barqueiro que se afogou no rio há muito tempo e não tendo um enterro digno, assombrava aqueles que o- invocava.
Ponte do São João, onde o barqueiro fantasma aparece. (Créditos na foto : Giovani Carvalho) |
A Filha do Coronel
Postada ano passado no blog, resumindo, existem algumas versões da lenda, em meados do final de 1850 e começo de 1860 a filha mais bonita do afamado Coronel Leitão (alferes, escravocrata) se apaixonou por um rapaz pobre (ou escravo, ninguém sabe ao certo) mesmo sem a aprovação do pai, insistiu no romance. De castigo, seu pai mandou que os escravos a emparedassem viva em seu Solar (atual Museu de Antropologia). Não se sabe ao certo o quanto a moçoila permaneceu lá, ainda estava viva quando a retiraram, algum tempo depois no leito de sua alcova, sofreu uma aguda insuficiência respiratória, levando a óbito. Dizem que os seus restos mortais estão em uma cripta separada na Igreja Matriz de acordo com historiadores da cidade.
Anos após a sua morte, o casarão se tornou escola e depois museu, foi quando um guarda noturno presenciou o som do piano tocar lindamente, não havia mais ninguém ali. Ao se aproximar, avistou o fantasma materializado da filha do coronel que descia a escadaria em seu belo vestido branco de renda, agarrando-lhe o pescoço. Com medo, correu, deixando a porta do local aberta devido ao desespero. Não se falava mais nada na cidade a não ser sobre essa aparição que todo jacareiense conhece, no mesmo dia, o guarda pediu demissão.
Tive o privilégio de conhecer um colega segurança que conhece o tal homem, e confirma, a história é verídica, esse guarda ainda mora na cidade, e até hoje não chega perto do local.
Devido aos meus mais de 3 anos de pesquisa sobre a história da família Leitão, o nome da moça seria Jesuína Maria da Conceição Leitão, provavelmente nascida em 1840, uma das filhas do coronel que não se tem registros históricos.
Representação da Filha do Coronel, com a feição similar da família (Foto do final de 1850) |
A sua suposta tumba está próxima ao altar. Se encontra uma pintura religiosa, encomendada de Portugal por seu pai, em 1863. |
As Tumbas Secretas
Frederico Cândido de Oliveira(Cirugião Mor) , João da Costa Gomes Leitão Jr (Filho do Coronel Leitão) , Inocêncio Dias de Moraes (Ex- Juíz Municipal) e Anna Antônia de Paula Machado (mãe do coronel Joaquim de Paula Machado. São os quatro enterrados na cripta secreta da Matriz, muitos que frequentam as missas não fazem ideia de que a tumbas escondidas ali. Apesar de ser um fato, poucos acreditam na possibilidade disso existir, tive que conferi pessoalmente alguns anos atrás.
Apesar de ser um ambiente sombrio e oculto, todos podem ter acesso, basta anunciar ao sacristão que o guiará até lá.
O Casarão Assombrado
Construído em 1860, o segundo casarão do Coronel Leitão era sede da fazenda, hoje o local é um condomínio, a casa esta preservada, mas sem a originalidade ou móveis da época que permaneceram lá por muitas gerações.
Moradores do local que são espíritas já relataram ter avistado vultos e espíritos materializados que pareciam ser de escravos, como : uma moça de vestido florido de chita, homens negros saindo do porão (antiga senzala) e um homem "grande" vestindo roupa preta dos pés a cabeça, vagando ao redor do casarão (supostamente o próprio Gomes Leitão).
João da Costa Gomes Leitão (1805-1879) Casarão de 1860 - Atualmente |
A Maldição do Solar
Bento Lúcio Machado (1790 - 1857) foram um homens que guiaram Dom Pedro I no Vale do Paraíba durante o caminho da Independência, quando a cidade ainda era chamada de Vila da Conceição de Jacarehy, em 1821.
Em 31 de dezembro de 1841 foi agraciado com o título de Barão, concedido pelo Imperador Dom Pedro II e no dia 3 de dezembro de 1852, como Barão de Jacarehy com honras de grandeza, dentre outras honrarias anteriores.
Casou com a Baronesa Joaquina Angélica de Toledo Barreto, natural de Taubaté. Então viúva em 1860, a baronesa morre misteriosamente, talvez vítima de infarto, não tiveram filhos (herdeiros). Longos anos após o abandono do Solar, serviu como dormitório do colégio Nogueira Gama no final de 1890. Em 1931, por pouco tempo o local se instalou a Fábrica de Meias Vizetti, mudando rapidamente para o prédio vizinho, sem motivo aparente.
Em 17 de março de 1945, o Sr. João Machado (coincidência o comprador ter o mesmo sobrenome) adquiriu o local para se instalar a sua fábrica de caixinhas de papelão. No dia de sua inauguração, um incêndio destruiu por completo o antigo Solar.
O Esqueleto no Colégio
Construído em 1870 pelo fazendeiro Delphino Martins de Siqueira, o local era revestido de papeis de parede franceses e madeira de lei em tons claros e escuros. O que chamava atenção era o seu enorme salão principal com pinturas no teto, onde era realizado os saraus da nobreza. Durante os anos 20 até aos 40, o local se instalou ginásios e conservatório de música.
Conhecido como Colégio Antônio Afonso, o local foi desabado pela falta de preservação e os cupins que tomaram conta do assoalho e estruturas devido a infiltrações. Pouco sobrou do colégio, apenas alguns móveis e os pianos.
Os que alunos que estudaram lá relatavam que havia um esqueleto dentro de um armário de vidro, muitos se assustavam, outros nem passavam perto. Não se sabe a real origem dos ossos, alguns afirmam que possa ser de algum escravo ou algo parecido, a verdade é que os ossos existem e ainda estão lá. Apesar da construção ser dos anos 80, ainda guardam as ossadas na biblioteca.
Pianos originais da época, o primeiro (1901) ao lado, Zimmerman (final dos anos 50). |
O esqueleto, algumas partes foram substituídas devido a sua exposição (Créditos da Foto : Grupo Memórias de Jacarehy) |
O Casarão do Bruxo
Sede de uma antiga fazenda de café, existe uma história que em meados dos anos 30, uma família inteira morreram envenenados. O motivo era que a empregada confundiu uma folhagem de uma planta venenosa com um tempero.
Em uma das portas existe um pentagrama, não se sabe se é original da casa, hoje o local está abandonado dentro do viveiro municipal.
(Créditos nas foto : Hélio Marinho) |
A Procissão dos Mortos
A Procissão dos Mortos é baseada na lenda de os mortos saíam de suas tumbas no cemitério do Avareí e vagavam em lamentos com a pálida chama das velas até a capela de São Sebastião (ao lado) se alguém espionasse a procissão recebia uma vela que se fosse apagada se transformava em osso humano.
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